quarta-feira, 30 de maio de 2012

Desabafo lusitano


"Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens (...)"

(Um contra o outro - Deolinda)

A música lusitana se reinventa ao som do fado moderno de Deolinda. Com letras divertidas, irônicas e muito distantes do sofrimento tradicionalmente expresso na lírica portuguesa, o grupo revela o sentimento da sociedade atual. Lidar com os relacionamentos interpessoais como um jogo é um dos pontos de vista. Há também, os aspectos nocivos da inveja em "Mal por mal", em que a frase reveladora é "o teu bem faz-me tão mal". E por que não refletir desta forma?

Se impor sobre a falta de humanidade do "ser humano", por mais redundante que seja a frase é algo necessário. A falta de fluidez, a ausência de preocupação e respeito são constantes. Falar de bons sentimentos e bons fluídos passou a ser brega. Então, reposicionar-se sobre os sentimentos que nos são imanentes pode ser uma solução inteligente para perpertuarmos a discussão sobre quem somos e para onde vamos, por mais ampla ou obsoleta que essa discussão seja. Acredito que algum momento da vida, as pessoas se questionam sobre o quanto mudaram e onde ficou o sentimento terno que tanto preconizaram por anos a fio e que foi perdido de forma desvairada.
Na canção do grupo português chamada "Um contra o outro", o acorde inicial é dado com uma forte sentença: "Anda, desliga o cabo, que liga a vida, a esse jogo (...)". E afinal, por que fazer da vida um jogo? Qual é a graça de jogar contra si mesmo? Ouvi falar certa vez sobre um termo interessante: "auto-sabotagem". Criticar a si mesmo é importante, mas se maltratar é tolice. E mais, não se permitir sentir junto a outra pessoa um sentimento honesto e verdadeiro, é também permanecer no erro. Faça amigos, sorria, diga bom dia, agradeça, seja você mesmo.

A música ensina. Às vezes, a lusofonia também.  E desta forma, Juliette escreve para marcar os quatro anos deste espaço verborrágico que em língua portuguesa preconiza boas e transformadoras ideias.