terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um fabuloso destino



Pegar o endereço anotado em uma folha de caderno. Depois de ter realizado um dos momentos máximos de realização e visitar o Espaço Dalí em Montmartre, é hora de seguir. Descer uma longa rua do bairro parisiense, conferindo as casas, número a número, em uma busca emocionante: encontrar o Café "Les Deux Moulins". O coração bate mais forte, a emoção é inevitável e só de pensar que vou chegar ao local onde foi gravado o filme "O fabuloso destino de Amélie Poulin", para mim, para lá de significativo, é inexplicável. As mãos tremem, os olhos ficam marejados, é impressionante como a arte transcende e nos toca de forma inevitável, uma mistura de nó na garganta com reflexão.

Já assisti 'Amélie' de tudo que é jeito. Sozinha no video cassete, depois no dvd, na aula de semiótica, com amigos, família. Não há tempo ruim para o filme. A obra toma uma proporção incrível, é espaçosa mesmo. E daí que a trilha sonora se tornou popular até para elevar a emoção dos envolvidos em uma simples reforma de uma casa em um programa global? Pouco me importo se o rosto de Amélie estampa camisas a 'torto e a direita', em todos os formatos, caras e bocas. O verde e o vermelho dizem mais que qualquer coisa, a delicadeza e a verdade também. Amélie é a foto de perfil do "Juliette escreve" há quatro anos, se é que repararam. É uma espécie de 'alter ego', identificação espontânea.

Entrar no café, respirar e olhar ao redor. Algumas coisas não são idênticas, o cantinho da Georgette é uma adaptação, o caixa e a tabacaria ficam em lugares distintos, mas tudo bem. Encontrar brasileiros que logo pedem crème brûlée e me convidam para a quebrar a casquinha, também é sensacional. Tudo é sinestésico, desde ouvir o barulhinho da ruptura da casca ao cheiro do café. Um convite para pensar que podemos sim brincar com o tempo e esperar, esperar muito pelos melhores segundos de vida, por aquelas pessoas que estão perdidas também no espaço e que logo aparecem para nos fazer felizes, que podemos promover a felicidade alheia com simples gesto de gentileza ou um sorriso, que somos muito mais que imaginamos, que podemos ser sempre mais 'Amélies'. Uma mágica que vai além da película e que replica sentidos, nos move,  nos faz acreditar no absurdo ou em algo que até então parecia distante, como a própria possibilidade de nos vermos em uma circunstância desta e em lugar tão longe de casa. 

A propósito, o café se localiza na Rua Lepic, 15, no bairro de Montmartre, em Paris. Depois é possível dar um pulinho no Moulin Rouge, mas aí, é outra história.