domingo, 18 de outubro de 2009

Diário de outra folia...

a.ba.dá
sf (ioruba agbáda) Túnica branca com que os negros malês, em certas noites, se vestiam para rezar.

O verbete do dicionário explica o significado da palavra abadá. Busquei a origem deste termo, para descobrir o real valor de uma camisa que ganhei na semana passada.
Entre os dias 15 a 17 de outubro, foi realizado o JF Folia, em Juiz de Fora(MG). O evento traz os "ícones do axé" para a cidade, além de transformar este provinciano munícipio em uma extensão de Copacabana. Cariocas são encontrados em todas as partes. Na padaria, no bar, no supermercado, nas praças. E acreditem: andam de sunga pelas ruas para mostrarem o que o carioca tem (ou não tem).
Na vespéra do evento, costureiras correm contra o relógio para customizar os abadás dos foliões. Sim, o abadá é uma veste que dá acesso à micareta e representa uma ala na qual as pessoas pagaram caro por este pedaço de pano, para estarem próximas de outras que também o fizeram, e assim cria-se um ambiente "selecionado". Do significado original da palavra abadá, resta apenas o ato de se vestir para uma finalidade específica. No caso da micareta, o objetivo é correr atrás de um trio elétrico sem parar e beijar na boca de quem estiver na frente.
Na semana em que a folia irá acontecer, a bolsa e os índices do preço do abadá, dos camarotes e dos ingressos de pista sobem. Há uma super valorização deste carnaval fora de época e quem lucra com isto são os patrocinadores, cambistas, organizadores e claro, os vencedores de promoções.
Como uma recente twitteira, resolvi seguir o shopping da cidade que oferecia diversas promoções aos seus "followers". E desta forma, fui contemplada com um abadá feminino para esta festa da música baiana, com a participação paranaense de Michel Teló (um cantor de música sertaneja).
Com a veste e o cartão de acesso na mão, me questionei se deveria ir ou não. Afinal, por que todo cidadão juizforano se rende a esta micareta? Deveria eu, também estar nesta patuscada?
Diante das dúvidas, preferi vender o abadá. Fiz um anúncio na comunidade do evento no orkut e logo apareceu uma compradora que estava desesperada por um lugarzinho nesta festa. A vontade dela de usufruir deste "uniforme folião" era muito maior do que a minha.
Minha folia foi à base de rock, pop e nostalgia. Teve beijo na boca sim, mas com qualidade, bem curtido. E não com a fúria 355.908 foliões(chute total de dados) em busca de alguma coisa.
As pessoas mudam, os valores também. Quem sabe em uma outra estação, vibe ou vida, toparei com uma micareta pela frente?
Vai saber!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uma conversa afinada....

Sinto falta de discussões consistentes, palavras engajadas e anseio por mudanças. Nesta tarde conversei com Luiz Fernando Priamo, um dos criadores do caderno literário Encontrare. Uma pessoa sonhadora e cheia de boas idéias.
Abaixo um trecho da conversa que merece destaque.
Luiz: às vezes penso a função de escrever em um país de analfabetos, funcionais ou não me sinto idiota pretendendo um futuro nisso.
eu: Aí é que está, depende do quanto você se envolve com estas causas. Do quanto você quer democratizar isto. Ser jornalista é também encontrar linhas editoriais e públicos.
Luiz: pois é, igual ao encontrare, acho que estamos no caminho errado...
eu: pq?
Luiz: precisamos expandir esse universo e não restringir
eu: mas o quanto é ele restrito?
Luiz: se há a ferramenta pq não usar? e eu acredito que a poesia, seja através de qual meio for tem a capacidade de acesso e penetração. Ele gira no mesmo eixo da galera "cultural" de JF onde circula grana, onde as pessoas podem acessá-lo de modo diferente por isso prezo a criação de um site ou blog onde terá o suporte do encontrare e o papel deve chegar além disso esse, aliás, foi o pensamento primeiro do caderno...mas foi tomando outros rumos que não me suprem enquanto pessoa.
eu: entendo e acho interessante o seu ponto de vista. Apesar de reconhecer que ele já representa um avanço no que diz respeito a propagação da poesia e fazer com que pessoas possam exprimir suas idéias de uma forma diferente. (...)
Sendo gratuito e distribuído ele tem uma vida maior, passa para outras pessoas...
Luiz: mas não pode ficar restrito.
eu: E o que fazer além da internet, que ainda representa restrições? Pq é claro que você vai abranger outras cidades, outras pessoas, mas que tipo de público irá acessá-lo?(ainda quem se interessa por cultura?)
Luiz: sim, isso. Não há como fugir mas, por exemplo, no bairro Santo Antônio há uma escola onde uma professora formou com os alunos mais de vinte grupos de contadores de história, já pensou quantos gostam de poesia e não conhecem o encontrare? não que sejamos o veículo ideal e único na cidade.
longe disso mas é uma questão de fazer a poesia realmente girar e a cidade pode propiciar isso, basta boa vontade nossa.
eu: é interessante. talvez vocês possam plantar esta semente em pequenos projetos como estes e para depois vê-los dar frutos.As crianças absorvem e aprendem o que lhes é passado de bom grado tudo é novidadee a poesia também pode ser.
Luiz: claro e creio sinceramente no poder da linguagemé a grande força de mudança que temose a poesia é o que flexibiliza essa penetração da linguagem .
eu: Com certeza seria uma forma de mostrar que poesia é algo agradávelpq a própria educação com os vestibulares e outras obrigações força os estudantes a verem este tipo de linguagem como algo árduo e díficil de entender.
Luiz: estou com planos, mas necessita amadurecimento.
eu: claro...é preciso pensar e muito.mas você tem boas idéias.
Luiz: mas quero praticar, tem ong e projetos que penso serem boas iniciativas culturais
eu: ah sim, parcerias são sempre bem vindas.
Luiz: o pessoal do Eco tbm já pensou algo, creio que é palpávelnão seria ensinar poesiamas mostrar o que é e onde está.
eu: boa idéia.
Luiz: porque a poesia necessita abstração.
eu: é verdade, tem razão.
Luiz: nem todo mundo percebe que vai além do escrito, não é preciso retirar da cabeça das pessoas o peso de caras como camões, olavo bilac...que são válidos, mas não atingem.
Precisamos democratizar a poesia, idéias não faltam. O que você sugere?