sábado, 25 de julho de 2009

O som da viola

20h, cortinas abertas. No palco, uma única cadeira e um microfone. Às 20:30, um homem tímido entra em cena acompanhado de sua viola. O público atento, observa aquele espaço de espetáculo no qual um violeiro se transformava. De repente, uma bela música é tocada com agilidade e talento e a platéia se rende ao encanto de "Paisagens" de Ivan Vilela.

Assim começou o quarto dia de apresentações do XX Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora. No dia 23 de julho, violoncelos, pianos e violinos, cederam espaço à viola caipira em um repertório que mesclava músicas do século XIX, modas de viola tradicionais e até o rock dos Beatles.

O concerto de Ivan Vilela homenageou Pereira da Viola, Chico Buarque, Flávio Venturini e contou muitos, muitos "causos" caipiras. Por meio destas histórias, o público conheceu a trajetória da viola, instrumento lusitano que era muito comum na época do descobrimento do Brasil e que passou a ser tradicional na zona rural e periferias do país, com o surgimento do violão e outros instrumentos.

Até Padre José de Anchieta entrou na roda de viola, com a catequização e a formação de um novo dialeto, o "Abá nhe'enga oiebyr", uma adaptação da língua tupi-guarani que abrangeu muitas regiões do Brasil até o momento em que o português se tornou a língua obrigatória no país. O dialeto então irraizou-se na cultura brasileira e está presente no sotaque do homem do campo até hoje.
Para público, esta foi uma viagem cultural inesquecível no tempo e no espaço.

4 comentários:

Bala Salgada disse...

Música ao vivo não tem nada igual.

Devia assistir, é muito legal. Você vai gostar.

Beijão!

Thiago Almeida disse...

Seu post fez-me lembrar de um grande amigo que tocava viola caipira. Tinhamos um projeto de música experimental e ele, além da viola, tocava sanfona. Era muito bom. Valeu!

Ótimo domingo pra ti!

Paulo disse...

Certas coisas caipiras deveriam ser mais presentes na grande mídia, como a viola, a galinha e outras tantas coisas caipiras, tão boas e hj só conhecidas por aqueles que não quererm deixar as tradições que realemnte prestam morrer...ja outras coisas caipiras (como as duplas por exemplo) deveriam ser banidas da grande mídia ou serem proibidas de usarem tão nobre sobrenome...

Felipe Panisset disse...

orockerrou.blogspot.com
Saí do Diário muito tarde e só consegui ouvir as duas últimas músicas e a declamação sobre o "Cantar". Acho bom que a música regional não seja esquecida. Acho que até no próprio festival foram esquecidas as formas populares da música antiga. Não soube de nenhuma apresentação que privilegiasse o LUNDU (primeira manifestação musical estritamente brasileira, que mesclava heranças portuguesas clássicas e o ritmo africano), nem instrumentos populares de sonoridade riquíssima, de séculos passados que ainda são utilizados atualmente como a "viola de cocho".
Se tivessem convidado o grupo de música antiga da UEMG (que faz um trabalho de recuperação neste sentido), talvez a contribuição para o Festival fosse maior.


Felipe Panisset

Ps.: Parabéns Júlia! Citar a popularidade cancioneira das nossas entranhas culturais é sempre um alento.