terça-feira, 31 de março de 2009

Le pianist

Talento aplaudido de pé

Leonardo Toledo
Repórter

Os acordes ouvidos no início das manhãs e nos finais de tarde na nova unidade do Hospital Monte Sinai vem dos dedos ágeis de um jovem talento da música, o pianista Tiago Martins Bastos, de 25 anos. Atraídas (ou distraídas) pela interpretação de sucessos da MPB, as pessoas que aguardam no hall olham com aprovação para o jovem, sentado em um piano de cauda na recepção do hospital. Alguns arriscam um aplauso mudo ao final de alguma música preferida. Outros, menos tímidos, interrompem o pianista e pedem para tirar uma foto.

O que esses ouvintes casuais não sabem é que, no último dia 15, esse mesmo pianista era aplaudido de pé no auditório do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no projeto Música no Museu, maior série de concertos de música erudita em atividade no Brasil atualmente. O pianista foi ovacionado em “cena aberta”, depois de interpretar um improviso de Schubert. “Fiquei assustado, porque achei que eles estavam aplaudindo para encerrar a apresentação. Mas não era isso. Eu estava agradando em cheio”, conta Tiago.

Aprendizado - O aprendizado da música começou em família, aos 8 anos, quando Tiago começou a estudar flauta com a tia. Aos 11, ele passou a ter aulas de piano no Conservatório Estadual Haidée França Americano. Depois de uma breve lacuna de tempo, em que se dedicou a outros interesses, o jovem conheceu o professor Benito Taranto, que, avisado sobre o talento do rapaz, o convidou para um teste informal. O desempenho de Tiago, segundo Benito, superou todas as expectativas. “Durante nossa primeira conversa, ele já me despertou uma certa perspectiva. Percebi que o repertório ainda estava muito aquém do potencial dele”, conta.

O professor, então, viu que era hora de iniciar uma nova fase na carreira de Tiago, em que a técnica pudesse ser aprimorada em serviço da expressividade do jovem pianista. “Quando se está em uma escola regular, há um programa a seguir. Em nome disso, nem sempre o talento pode ser aproveitado em todo o seu potencial”, avalia Benito.

A professora de piano Wanda Lantelme Silva acompanha a evolução de Tiago e elogia a humildade do rapaz ao entender que a evolução de um músico não acontece do dia para noite, mas por meio de um processo longo e contínuo. “Não basta que o pianista seja talentoso, ele precisa ter técnica, e, sobretudo, ter a compreensão para casar esses elementos”, opina.

Sem piano em casa - O elogiado desempenho de Tiago não é mérito apenas de seu talento natural, mas de seu esforço em lutar contra a falta de tempo para conseguir praticar. Até o ano passado, quando concluiu a faculdade de Ciências Biológicos, a agenda tinha que ser dividida entre o piano, as aulas e os estágios. Essa rotina tornou-se ainda mais difícil pelo fato de o rapaz não ter um piano em casa.

O empecilho continua, mesmo depois da formatura. Para estudar, é necessário que Tiago espere os intervalos das aulas no conservatório. “O piano erudito exige muito, e a prática diária é fundamental. Sem um piano, fica difícil de me dedicar, porque além de esperar a disponibilidade de um instrumento, perco tempo no deslocamento até o conservatório”, diz o rapaz.

Tribuna de Minas - 31/3/2009

2 comentários:

Thiago Almeida disse...

Que orgulho!
Isso mostra que, além de ser o país do futebol, o brasil é o país da música, da arte, da ciencia, entre outros. É com noticias assim que devemos começar o dia. Mais arte, menos sensacionalismo!

PS: Ainda por cima é meu xará! rs...

=D

Andréa disse...

Me surpreendi demais vendo o Thiago tocar em Viçosa, na UFV. É maravilhoso!É ótimo saber que existem talentos novos tocando música de verdade!